Ana Miranda e Marília Lovatel e o Prêmio Jabuti

Escritora Ana Miranda está entre os finalistas do Prêmio Jabuti com livro Xica da Silva - A Cinderela Negra. Também cearense, Marília Lovatel concorre na categoria de obras para público juvenil

Já com seu primeiro romance, Boca do Inferno (1989), a cearense Ana Miranda conquistou um prêmio Jabuti, principal troféu literário do País, na categoria revelação. 28 anos depois, entre outras indicações e novas premiações, a autora está mais uma vez na lista dos finalistas. Dessa vez na categoria biografia, ela concorre com o livro Xica da Silva - A Cinderela Negra (2016), obra que conta a história da escrava alforriada e ganhou destaque na sociedade colonial brasileira.

“Mesmo sendo uma escritora que já está na estrada há muito tempo, é muito gratificante (receber a indicação). É uma luta muito grande para todos nós (escritores), por isso esse reconhecimento é importante”, afirma Ana, que lançou a obra pela Editora Record. A cerimônia de entrega do Jabuti será realizada no dia 30 de novembro, em São Paulo.

Segundo a autora, que tem no currículo títulos com o premiado Dias & Dias (2002), a biografia de Xica tem rendido bons retornos. “Fiquei muito feliz com a inclusão do livro na temática da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que destacou mulheres e pessoas negras. Xica esteve lá e fez um papel bonito, embora ela não seja tomada como um modelo de luta racial, ela é um símbolo de libertação pessoal”, conta a autora, orgulhosa com a boa circulação que o trabalho teve no evento.

No processo de mergulho na vida da mulher que já foi retratada no cinema por Zezé Motta e na TV pela novela da Manchete (estrelada por Taís Araújo), Ana conta ter se tornado “amiga” de Xica e relata que essa proximidade com a biografada permitiu revelar outros lados da personagem já tão conhecida. “A partir das mentalidades das épocas, a visão sobre a Xica foi se transformando. Agora, ela está sendo descoberta como uma figura histórica, pois sempre foi vista como lenda. Agora está aparecendo a mulher”, aponta, revelando que as pesquisas levaram a autora a descortinar uma mulher mãe de 13 filhos, uma esposa dedicada que “é totalmente o oposto das interpretações fantasiosas” sobre uma mulher hipersexualizada.

Ao lado da biografia da ex-escrava, concorrem ao prêmio nomes como a cantora Rita Lee (com sua autobiografia), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (com Diários da Presidência 1997 - 1998 - volume 2) e Américo Freire e Evanize Sydow (com Frei Betto: biografia), entre outros. “Eu acho que deveria ter um prêmio para um escritor já consagrado e outros dez para escritores novos, que são eles que precisam ainda mais de uma luz em cima das suas obras”, pondera Ana. Para a autora, o Ceará tem se consolidado como um celeiro de novos talentos. “Desde que eu voltei a morar aqui, há dez anos, que tenho visto um desenvolvimento incrível. Eu vejo um movimento bem maior, não apenas de publicação de livros, mas de clube de leituras, de revistas literárias, palestras”, comemora.

Marília Lovatel

Na categoria de obras voltadas ao público juvenil, a cearense Marília Lovatel está entre os finalistas com o livro A Menina dos Sonhos de Renda (2016, Editora Moderna). “Estou numa felicidade só. É o prêmio mais importante do Brasil e todo mundo que escreve sonha com esse tipo de reconhecimento”, celebra Lovatel, que conta apenas cinco anos de carreira na literatura. “Sou muito pé no chão. Estou só começando. Estava falando com a Ana Miranda e brinquei que esse prêmio é para gente grande como ela. Estou feliz de ter chegado aos finalistas”.

 

O livro que agora conquista destaque nacional nasceu inspirado numa reportagem que Marília leu sobre rendeiras do município de Aquiraz, que, para chamar atenção para o seu trabalho, resolveram fazer a maior renda do mundo para entrar no Livro dos Recordes. “Fiquei impressionada com a capacidade daquelas mulheres de puxar o holofote para elas. Elas provam que aquilo que elas produzem merece ser valorizado”, aponta, num paralelo entre profissionais da cultura que resistem em diferentes linguagens artísticas.

SAIBA MAIS

Outras premiações

Nos últimos anos, a lista de autores finalistas do principal prêmio da literatura nacional tem constantemente incluído nomes cearenses. Em 2015, o cordelista Klévisson Viana ganhou o Jabuti de Bronze na 57ª edição da premiação pelo livro O Guarani em Cordel, obra inspirada no romance de José de Alencar e que concorria na categoria adaptação. Nesse mesmo ano, outros três cearenses compuseram a lista: Ana Miranda (com Semíramis), Socorro Acioli (A Cabeça do Santo) e Lira Neto (Getúlio – da Volta pela Consagração Popular ao Suicídio - 1945-1954). Em 2013, Socorro venceu o Jabuti “infantil” com a obra Ela tem olhos de céu. Já Ana, que já venceu o prêmio em 1989, ganhou novamente em 2002 com Dias & Dias. Ano passado foi a vez de Raymundo Netto, ser finalista na categoria Contos e Crônicas com o livro Crônicas Absurdas de Segunda (da editora Demócrito Rocha). Em 2014, Lira Neto venceu o Prêmio Jabuti na categoria biografia com o livro Getúlio - Do governo provisório à ditadura do Estado Novo (1930-1945), o segundo volume da trilogia biográfica do ex-presidente Getúlio Vargas. Na edição de 2013, Lira Neto ficou em terceiro lugar do prêmio na categoria biografia com o primeiro volume da série, Getúlio: dos Anos de Formação à Conquista do Poder, 1882-1930.

Fonte: Jornal O POVO

Ana Miranda e Marília Lovatel, são autoras de vários títulos do Armazém da Cultura.

 

 

 



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