Laranja, cor da energia, por Veronica Castelo

Inspiração em tempos de pandemia é um presente dos deuses! Que melhor papel o blog da editora Armazém da Cultura poderia exercer senão o de publicar textos para serem mais lidos e, quem sabe, escritos de futuros autores da editora? Pois bem, hoje o espaço é de Verônica Castelo Branco, engenheira civil e professora universitária na Universidade Federal do Ceará desde 2009. Apaixonada por palavras e pela educação, escreve diariamente na página do Instagram@dormi_aluna_acordei_profa.
Durante a pandemia criou um novo projeto que se chama COR(o) NA VI(rus)DA.                                 

Laranja, cor da energia                                                                                

pegando o ritmo?” Essa foi a pergunta que ouvi quando resolvi correr pela manhã durante a quarentena. Essa pessoa, que nunca me viu, mal podia imaginar que eu estava, considerando o meu histórico, quase correndo uma maratona com intensos batimentos cardíacos, traduzindo: coração saindo pela boca ou colocando os bofes para fora. “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Fui uma criança ativa, graças à mamãe. Alternei entre dança e natação, apesar da nítida falta de habilidade em ambas. Valia mesmo “se mexer”. Depois disso, costumo dizer que, antes de fazer as pazes com a musculação, vivi o que pode ser definido como 39 anos de puro sedentarismo. Me faltava motivação talvez, não sei explicar. O fato é que há alguns anos, motivada por um endocrinologista que me prescreveu atividade física como “remédio” para as minhas questões, enfim tomei coragem.

A princípio conheci Ivano Paulo, meu primeiro personal, depois Lucas Nogueira (educador físico que mal sabe as lições que me dá). Lucas chegou e, com toda paciência, me apresentou a possibilidade de promover a minha saúde. Afinal, para conduzir a minha vida e ajudar aqueles que me são caros, é necessário que eu, primeiramente, esteja bem. Entre idas e vindas, agendamentos e furos, um dia lhe disse: “Por favor, não desista de mim, eu voltarei a treinar”. Ele prontamente, respondeu: “Eu só desistirei de você no dia que você mesma desistir”. Pois bem... Eu que sempre me vi arredia à atividade física, presenciei a chegada do Corona que me colocou para correr literalmente.
Muitas vezes tentei praticar essa atividade. Assessorias esportivas, nutricionistas, academias, verifiquei o tipo da pisada. Nada disso venceu a inércia e conseguiu superar o peso do meu próprio corpo. Sentir o vento no rosto, tomar banho de chuva e poder me mexer em qualquer lugar sempre me encantaram. A pandemia me tirou do convívio diário prazeroso com o Lucas. Pra remediar, ele me passou um treino on line e eu montei minha academia particular adaptada. A Covid me apresentou uma versão minha que eu desconhecia. Não consegui estabelecer uma rotina nesse momento de vida, exercitar-me diariamente tem sido uma bela exceção. Se para estabelecermos um hábito, 21 dias são precisos, estou quase lá.

Lembrei-me, com essa reflexão, de dois textos. O da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) e o Sobre Esperanças da Íris Cavalcante, publicado no blog do Armazém da Cultura. A SBMEE me alerta sobre a correlação do ato de mexer o corpo com a saúde imunológica e emocional. Me lembra que na Percepção de Esforço Subjetivo (PSE), manter-se no nível moderado (laranja!) é o indicado e que não é hora para bater recordes e sim “manter ou pegar o ritmo”. Íris me traz outro alerta. O silêncio da quarentena me dá a “oportunidade de ouvir a orquestra dos pássaros” e de “fazer passeios para dentro de mim”.

Infelizmente também me tirou os bons-dias sinceros que recebo, daqueles que não me conhecem mas que nesse momento até trocam de calçada, quando me avistam. Íris diz ainda que: “se não podemos passear nas ruas como antes, que o passeio se dê para dentro de nós e nos reconecte com a subjetividade que o momento propõe, nos liberte de tantas vaidades humanas”. Meu desconhecido preferido tinha razão: é chegada a hora de alterar o ritmo erápido.



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