Desde os primórdios da humanidade, a tecnologia é a mola-mestra da nossa evolução, reestruturando continuamente todas as dimensões da existência humana: social, econômica e ambiental. O ser humano é uma tecno-espécie – a tecnologia muda, nós mudamos. No entanto, se até recentemente o ritmo de mudança no mundo era linear e previsível, atualmente temos experimentado uma aceleração tecnológica vertiginosa em ritmo exponencial que aumenta a complexidade e a imprevisibilidade de tudo ao nosso redor. Nesse contexto, somos impactados diariamente por rápidas, constantes, incertas e profundas transformações, que requerem novas habilidades e estratégias para serem compreendidas e absorvidas para que consigamos atuar no ambiente tecno socioeconômico que emerge a cada momento.
Um dos principais desafios que esse aumento de velocidade e complexidade traz para o ser humano é a dificuldade maior de compreendermos as causalidades e impactos que a mudança de cada parte do sistema causa no todo e vice-versa. Conseguimos perceber facilmente relações diretas de causa-efeito em sistemas lineares (por exemplo, se acendo um fósforo perto de uma bomba de gasolina, ela pode explodir), mas não associamos facilmente os gatilhos de transformação de sistemas complexos (por exemplo, a Primavera Árabe, WikiLeaks e a eleição de Trump, nos USA). Além da complexidade, as tecnologias digitais catapultaram também as conexões e a produção/ disseminação de conteúdos no mundo, resultando em fenômenos como a Economia da atenção (Davenport, 2001) e o Paradoxo da escolha (Schwartz, 2004), sobrecarregando-nos cognitivamente.
Uma das consequências disso é que os filtros informacionais que utilizávamos no mundo linear não funcionam mais na era digital exponencial e complexa – mídia/educação tradicional e distância geográfica, os principais estruturantes da informação do mundo analógico, colapsaram com as plataformas digitais, transferindo poder e, ao mesmo tempo responsabilidade informacional aos indivíduos. Hoje, podemos mais do que queremos – e isso é perigoso tanto para a sustentabilidade do indivíduo quanto da humanidade, pois causa desequilíbrio e ruído.
Multiplicidade, velocidade, efemeridade, descentralização, abundância e complexidade regem a informação no cenário atual e requerem novos filtros para que a comuni- cação aconteça de forma a gerar sentido e valor tanto para o indivíduo quanto para a sociedade. Inicialmente, a busca digital se estabeleceu como principal filtro informacional, levantando questionamentos sobre pensamento crítico e manipulação como discuto em Digital Oracles (Gabriel, 2008). Posteriormente, surgem as mídias sociais on-line que complementam essa função filtrante. No entanto, a associação da facilidade de se gerar e disseminar informações nas plataformas digitais com o uso de filtros informacionais dissociado de pensamento crítico agravou dois fenômenos alienadores que têm comprometido o cenário comunicacional recentemente – fake news e pós-verdade. Elas geram “bolhas” de percepções equivocadas e perigosas que tendem a comprometer a saúde social (tanto individual quanto coletiva) e que só podem ser combatidas por meio da educação, do pensamento crítico e da ética.
Entretanto, um dos principais paradoxos que o ambiente digital nos traz é que se, por um lado, ele nos distrai e dispersa, por outro, requer cada vez mais pensamento crítico e aprofundado para se lidar com suas mudanças e filtrar informações. Nesse sentido, este livro Como sair das bolhas (https://armazemdacultura.com.br/products/como-sair-das-bolhas) se torna leitura essencial para qualquer indivíduo – independentemente da sua formação, atuação ou idade – pois fomenta a reflexão crítica sobre o efeito “bolhas” e suas consequências. É também uma contribuição extremamente valiosa à educação na era digital, pois, de forma didática e, ao mesmo tempo, profunda, desvenda as transformações que nos trazem para o contexto atual, orientando-nos sobre como não perder a lucidez e combater as distorções, muitas vezes disfarçadas em notícias. Pollyana Ferrari nos presenteia aqui, não apenas com informações e reflexões, mas também, e principalmente, com humanidade articulada com tecnologia. Indispensável.
Martha Gabriel. Engenharia Civil pela Unicamp, pós-graduação em Comunicação de Marketing pela ESPM-SP, pós-graduação em Design Gráfico pela Belas Artes de São Paulo, Mestrado e Doutorado em Artes na ECA-USP. Formação executiva em Management & Leadership no MIT Sloan School of Management. Palestrante keynote, consultora em marketing, inovação e educação. Professora de pós-graduação na PUC-SP (TIDD). Artista premiada com trabalhos expostos no Brasil e no exterior, tal como SIGGRAPH, Videobrasil, Rhizome, Florence Biennale, Technarte, entre outros. Autora de seis livros.
Referências
DAVENPORT, T. e BECK, J. (2001). Economia da atenção. Rio de Janeiro, Elsevier.
GABRIEL, M. (2018). Digital Oracles. New Realities. Springer. Disponível em: <https://link.springer.com/chapter/10.1007/978-3- 211-78891-2_28>. Acesso em: 15 jan. 2018.<br />SCHWARTZ, B. (2004). O paradoxo da escolha. Nova York, Harper Perennial.
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